Dificuldades escolares na infância e a organização familiar.
- Carolina A. Barbosa
- 4 de out. de 2016
- 3 min de leitura

Crianças sempre apresentaram dificuldades de aprendizagem, o que no passado não era plenamente reconhecido. Atualmente essas dificuldades têm sido associadas a dois fatores principais. Um desses fatores refere-se ao déficit de atenção e hiperatividade (conhecido pela sigla TDAH), o que normalmente é tratado por alguns especialistas com medicamento. O outro fator está relacionado a questões de organização familiar, assunto que discutiremos neste texto.
Explicar as dificuldades escolares das crianças como consequência da falta de organização das famílias, é hoje uma tendência muito presente nos discursos que circulam no interior das escolas e fora delas. Nessa lógica, a dificuldade de aprendizagem apresentada pela criança seria o sinal da disfunção familiar, ou seja, diante de uma família considerada “desestruturada”, a criança apresentaria dificuldades na escola.
As mudanças que ocorreram na sociedade nas últimas décadas colocaram em xeque a família tradicional composta por papai, mamãe e filhos. Surge um novo modelo de família, mais democrática e plural. Para tentar contemplar a diversidade de configurações e relações familiares, o padrão de organização das famílias vem mudando ao longo dos anos, e por isso hoje não se fala em família, mas em seu plural, famílias.
Independentemente de como se estabelecem os vínculos, não há uma família ideal e plenamente harmônica. Por isso, em toda e qualquer organização familiar, há momentos de angústia e ansiedade.
O trabalho de cada filho resume-se em lidar com esses maus momentos e criar uma história sobre como é sua família, não importando como ela se apresenta na realidade. Enquanto a criança estiver às voltas com sua construção familiar, ela pode apresentar algumas dificuldades em executar determinadas tarefas na escola, pois seu foco está nas relações que tem construído ou vivenciado em casa.
O problema é que estes impedimentos que a criança pode vir a apresentar na escola, em muitos casos acabam sendo reduzidos a uma deficiência na aprendizagem ou a uma “desestruturação” familiar, descartando, assim, qualquer outra possibilidade. Em muitos casos pode ser apenas a expressão da subjetividade no campo da aprendizagem, algo momentâneo e reversível.
ENTÃO...
Diante desta pluralidade de arranjos, o importante é que a criança se sinta amada pelos seus cuidadores. Ao se sentir assim, ela está segura para conviver com outras pessoas, e, por conseguinte, apta a aprender as matérias curriculares.
Embora reconhecemos que o ambiente familiar tenha relevância no processo de aprendizagem das crianças, não podemos estabelecer relação direta e exclusiva com as dificuldades que elas apresentam na escola. Os pais devem estar atentos aos obstáculos que o filho enfrenta e procurar um especialista para, juntos, localizar o que tem causado esse sofrimento. Esse especialista deve identificar a história e as vivencias da criança, a fim de auxiliá-la a desvencilhar-se de suas dificuldades. Classificar qualquer atipia como uma deficiência não é o melhor caminho para a sua solução.
Devemos lembrar que existem outros fatores que podem estar relacionados às dificuldades de aprendizagem, sejam de cunho social ou até mesmo cognitivo. Para que possamos auxiliar a criança a superar suas dificuldades precisamos estar atentos às suas palavras ou seus atos cotidianos.
OBS: O objetivo deste espaço é proporcionar aos leitores reflexões sobre as questões que permeiam o mundo infantil. Não irei ditar regras ou caminhos a serem seguidos. Fugirei de verdades absolutas e fórmulas milagrosas, pois cada caso apresenta uma singularidade e não é possível generalizar.
Este espaço não substitui o acompanhamento psicológico. Durante a psicoterapia, o terapeuta conhece a especificidade do caso e realiza um acompanhamento personalizado para cada um.
Leitores de Belo Horizonte-MG interessados em acompanhamento psicológico, favor entrar em contato via mensagem.
Referência bibliográfica:
O fracasso escolar e a família: o que a clínica ensina? Margareth Couto, 2012.
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