Como falar com as crianças sobre a morte de um ente querido?
- Carolina A. Barbosa
- 2 de dez. de 2016
- 3 min de leitura
Uma notícia chocou o mundo esta semana: na véspera da final da Copa Sul-Americana de futebol, o avião fretado para levar os jogadores do Chapecoense e uma equipe de jornalistas esportivos, caiu numa região montanhosa da Colômbia.
Ainda esta semana, a esposa de uma das vítimas do acidente aéreo, postou em sua página um texto que demonstra claramente a angústia que está vivenciando. Em seu texto ela expôs que ainda não conseguiu contar para filha de três anos de idade sobre o acidente que aconteceu com seu pai.
Diante desta tragédia, proponho refletirmos sobre este tema. Como devemos contar a nossos filhos sobre a morte de pessoas da família ou do animal de estimação? Essa dúvida é recorrente para quem lida com crianças.
Por volta dos três anos de idade, a criança já tem noção sobre presença e ausência de alguém. Nessa idade seu mundo é dominado pela imaginação. Nos desenhos animados e nos filmes infantis, a criança já vivencia o tema pelo canal da fantasia. Mas, quando alguém próximo à criança falece, alguns pais com dificuldade em como falar sobre o assunto, preferem ocultar. Ou, em alguns casos, contam toda a verdade e com todos os detalhes.
Neste período, diante da ausência de um ente querido, a criança pode começar a interrogar sobre onde a pessoa está. O primeiro passo para lidar com a situação é se colocar no lugar da criança e falar de forma simples, que seja compreensível para sua faixa etária, sobre o que aconteceu. Certos detalhes podem ser incompreensíveis e gerar mal-estar na criança.
Por volta dos quatro aos sete anos de idade, já há compreensão do aspecto irreversível da morte. Então, para acalmá-los, podem incluir no esclarecimento acerca do ciclo natural da vida: plantas, animais e pessoas nascem, crescem e morrem.
Quanto mais claras as afirmações dos pais, mais tranquilidade o pequeno terá para lidar com a situação. Devem-se evitar histórias fantasiosas, como “ele virou uma estrelinha”. Essa frase não se sustenta e a criança poderá continuar interrogando sobre a questão. As crianças tendem a usar o recurso da fantasia para lidar com as situações, mas só apazigua a própria angústia se a fantasia for construída por elas. Diante da realidade compreensível exposta pelos pais, elas encontrarão através da própria fantasia, sua melhor forma de lidar com a situação.
Dos nove anos de idade em diante, é aconselhável explicar com mais clareza e fugir de todas as explicações fantasiosas, pois o filho poderá a começar a desconfiar dos pais já que possuem mais recursos para julgar a realidade. Nestes casos, busquem apoio na biologia ou na cultura, dizendo que cada uma encontra sua forma de lidar com as perdas.
ENTÃO...
O importante é que os pais formulem as explicações de acordo com o entendimento e a maturidade da criança. Para isso devem utilizar todos os conhecimentos que têm, sempre dentro dos limites de suas crenças. Tirar a dúvida da criança, falando a verdade, é sempre o mais indicado. Esconder das crianças assuntos delicados, privando-os de qualquer papo sério, tende a formar adultos mais frágeis.
Muitas crianças formulam questões sobre a morte porque se sentem inseguras, com medo de que os demais a sua volta morram cedo e ela fique só. Por isso é importante assegurar que ela estará sempre protegida e cuidada por algum adulto querido. Assim, ela será capaz de criar sua própria fantasia para lidar com esse tema que tanto nos angustia.
OBS: O objetivo deste espaço é proporcionar aos leitores reflexões sobre as questões que permeiam o mundo infantil. Não irei ditar regras ou caminhos a serem seguidos. Fugirei de verdades absolutas e fórmulas milagrosas, pois cada caso apresenta uma singularidade e não é possível generalizar.
Este espaço não substitui o acompanhamento psicológico. Durante a psicoterapia, o terapeuta conhece a especificidade do caso e realiza um acompanhamento personalizado para cada um.
Leitores de Belo Horizonte-MG interessados em acompanhamento psicológico, favor entrar em contato via mensagem.
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