Sexualidade Infantil.
- Carolina A. Barbosa
- 10 de nov. de 2016
- 3 min de leitura

São inúmeras as questões que permeiam a nossa sexualidade. Esse tema está impregnado de significações de cunho moral, de preconceitos, de dúvidas e de informações incorretas. O paradoxo do desconhecimento de algo que é tão natural tem feito do tema um tabu.
Um dos pioneiros a estudar a exploração do prazer foi o neurologista Sigmund Freud (1856-1939), criador da psicanálise. Ele chocou a sociedade de sua época ao falar da sexualidade infantil, rompendo com a imagem da criança inocente e assexuada. Se até então, a sexualidade estava relacionada à reprodução da espécie, a partir dos estudos teóricos, o psicanalista propôs outra visão sobre o tema e afirmou sua existência desde os primeiros meses de vida.
Pelo senso comum, este termo relaciona-se a erotização, a pornografia e ao desejo genital. Entretanto, o fato é que esse campo do desenvolvimento humano pode ser entendido em um sentido mais amplo, devendo incluir a conscientização sobre o próprio corpo e a forma de se relacionar amorosamente.
Assim como ocorre com outros fatores do desenvolvimento, a criança desenvolve paulatinamente a sua sexualidade. Ela precisa aprender a engatinhar ou ficar em pé antes de andar, e assim também acontece com a sexualidade. Antes de aprender a investir a libido em outra pessoa, ela precisa aprender o que é o prazer. Para as crianças, a sexualidade relaciona-se a conhecimento, a descoberta e a curiosidade. Chamamos esse processo de maturação do desenvolvimento da libido.
Ao prazer oral, o primeiro momento dessa maturação, vivenciado no ato de sugar o leite materno, sucede-se o prazer anal da retenção e expulsão das fezes e, mais adiante, o prazer fálico que torna prazerosa a manipulação dos genitais. As crianças sentem prazer em explorar o corpo, em serem tocadas e acariciadas. Elas experimentam a si próprias e ao entorno, vivenciam limites e possibilidades.
A descoberta de que o corpo é uma importante fonte de prazer costuma vir acompanhada de perguntas sobre a sexualidade. Quem lida com crianças percebe que curiosidades em relação a este tema propiciam buscas por respostas para amenizar suas dúvidas. As crianças podem direcionar suas questões aos adultos, ou podem tentar responder suas inquietações a partir do corpo do colega ou do próprio corpo.
Apesar de estarmos no século XXI, questões que permeiam este tema continuam a ser fonte de angústia, gerando mal-estar e constrangimentos nos adultos. Ainda é comum depararmos com pais e professores com dificuldades em lidar com as vivências e as manifestações sexuais na infância, alegando não saberem como agir ou responder ao que lhes é questionado. A sexualidade infantil ainda gera desconforto para os adultos, pelo fato de esbarrar em conteúdos de ordem subjetiva que estão ligados aos próprios conteúdos sexuais que outrora foram recalcados/escondidos, como nos apontou Freud.
As ações por parte dos responsáveis pelas crianças, em casa ou na escola, diante das manifestações da sexualidade infantil, tendem a ser baseadas em punições, repressões ou negação. Todas essas atitudes podem acarretar consequências de ordem psíquica que podem trazer prejuízos ao nível do desenvolvimento da criança.
ENTÃO...
Com esse percurso, denota-se que a sexualidade aparece no ser humano desde muito cedo, e que as suas primeiras manifestações não tem caráter genital, como ocorre depois da puberdade. Trata-se mais da organização do impulso da libido, que, mais tarde, será fundamental na busca do prazer sexual. É por isso que costumamos denominar esse processo de sexualidade infantil, para evocar um conteúdo mais amplo do que a palavra sexo nos remete.
Tendo em vista essa fase natural do desenvolvimento sexual dos seres humanos, assevera-se a importância dos pais e da escola na transmissão de um trabalho educativo que abarque a sexualidade nesta fase. Os responsáveis devem estar cientes de que a forma como devem abranger o tema vai variar de acordo com a faixa etária da criança. Como exposto no texto anterior, os responsáveis devem responder as questões de acordo com a maturidade e curiosidade da criança, ou seja, com sua capacidade de entender e se satisfazer com a resposta.
OBS: O objetivo deste espaço é proporcionar aos leitores reflexões sobre as questões que permeiam o mundo infantil. Não irei ditar regras ou caminhos a serem seguidos. Fugirei de verdades absolutas e fórmulas milagrosas, pois cada caso apresenta uma singularidade e não é possível generalizar.
Este espaço não substitui o acompanhamento psicológico. Durante a psicoterapia, o terapeuta conhece a especificidade do caso e realiza um acompanhamento personalizado para cada um.
Leitores de Belo Horizonte-MG interessados em acompanhamento psicológico, favor entrar em contato via mensagem.
Referência bibliográfica:
Psicanálise e educação: um tratamento possível para as queixas escolas. Laguardia, Nádia, Barbosa, Carolina, et al.
Psicologias, uma introdução ao estudo da psicologia. Bock, Ana, Furtado, Odair, Teixeira, Maria.
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