top of page

PROCURE POR TAGS: 

POSTS RECENTES: 

SIGA

  • LinkedIn - Grey Circle
  • Facebook - Grey Circle

Trauma da separação primordial: dificuldades em restabelecer relações amorosas na vida adulta.

  • Carolina A. Barbosa
  • 4 de nov. de 2016
  • 4 min de leitura


No post anterior expus acerca da separação traumática entre a mãe e o bebê e uma possível solução encontrada pelo filho via objetos transicionais. Caso essa separação não tenha sido vivida de forma tranquila na infância, ela deixará marcas na personalidade de cada um. Sendo assim, este post aprofundará em outro caminho possível que o indivíduo pode apresentar anos depois por não conseguir usufruir da capacidade de estar só, ou seja, das consequências positivas de ter se separado da mãe.


A capacidade de estar só se dá a partir de um longo processo, que vai da dependência total da mãe até a conquista da autonomia em relação a ela. Nota-se que ambos, tanto a mãe quanto o lactante, são responsáveis por essa possibilidade ou pelo fracasso dela. Isso pode acarretar em inúmeros sintomas, como por exemplo: a dificuldade em restabelecer uma relação amorosa na vida adulta, pois diante de uma dependência total do outro, qualquer eminência de separação ou perda do objeto amoroso é tido como uma ameaça à própria integridade.


Para tanto, a capacidade de ficar só é um fenômeno altamente sofisticado que representa um dos sinais mais importantes do amadurecimento do desenvolvimento emocional. Ela se estabelece no paradoxo de ficar só na presença de alguém; o bebê, na presença da mãe. Tal capacidade está ligada com a habilidade da criança em lidar com os sentimentos gerados pela separação mãe/bebê e a natural identificação com um dos pais neste momento.


O que permite uma legitimação da maturidade psíquica e sua integridade emocional é a experiência amorosa estabelecida entre a criança e a mãe. A mãe deve-se apresentar como suficientemente boa, ou seja, que compreende que sua ausência também é fundamental, para que com todo aparato psíquico a criança consiga elaborar e avançar no mundo externo. Portanto, o desligamento do objeto primário, que no caso é a mãe ou quem assume essa função, deve-se dar de forma segura; menos traumática possível.


Tendo isso em vista, é perceptível que em algumas situações as condições não são favoráveis para a separação mãe-bebê. Nota-se um fracasso da experiência de separação, e ao invés de se constituir um amadurecimento emocional dos investimentos posteriores à separação materna, o indivíduo luta para reter o objeto primário (mãe) e revive repetitivamente sua perda. Esse enlace acaba por acarretar um desconforto nas suas relações amorosas futuras. Afinal, a primeira relação amorosa de todos os indivíduos é com a mãe, e, portanto, as próximas serão reflexo de como a primeira foi vivida.


ENTÃO...


Quando transposta essa situação para vida adulta e nos vemos diante da escolha de um novo objeto de amor, devemos o escolher porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem e nunca por precisar de alguém, porque dessa forma a relação é vivida como de extrema dependência. Na dependência total do namorado/marido o indivíduo enxerga a perda sob a perspectiva de quem vive a ilusão de possuir o controle onipotente do outro. Ou seja, possui a fantasia de que ele é de sua posse e, acima de tudo, que sua perda representa um dano irreparável, pois, como dito acima, é na iminência de perda do objeto amoroso que se percebe uma ameaça à própria integridade.


A fim de ilustrar esta discussão, é cabível uma passagem de Fernando Pessoa, onde ele ressalta que “A liberdade é a possibilidade de isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo.” Podemos entender a liberdade enquanto um processo na qual o sujeito não se vê mais dependente do outro, que no caso é a mãe ou quem assume essa função materna.


É indício que a criança conseguiu passar pela fase da separação de forma menos traumática se ela souber usufruir da sua própria capacidade de estar só, menos dependente da mãe. Estar só é se sentir bem independente da presença física do outro o tempo todo. Tendo o objeto internalizado e sabendo lidar com a angústia da separação, é possível uma relação na qual o parceiro não assume uma posição apenas de suprir a falta, ou melhor dizendo, tamponar essa angústia primordial de todo indivíduo.


E se mesmo diante dessa problemática ou mesmo desse processo, o indivíduo ainda se vê como um escravo, ou seja, impossibilitado de gozar dos prazeres da liberdade enquanto um sujeito independente e, portanto, capaz de estar só, este poderá encontrar dificuldades ao restabelecer uma nova relação amorosa na fase adulta, como proposto neste post. Portanto, como reforçado pelo entrevistador de televisão Jô Soares, “a melhor maneira de ser feliz com alguém é aprender a ser feliz sozinho, pois, assim, a companhia será questão de escolha e não de necessidade”.

OBS: O objetivo deste espaço é proporcionar aos leitores reflexões sobre as questões que permeiam o mundo infantil. Não irei ditar regras ou caminhos a serem seguidos. Fugirei de verdades absolutas e fórmulas milagrosas, pois cada caso apresenta uma singularidade e não é possível generalizar.

Este espaço não substitui o acompanhamento psicológico. Durante a psicoterapia, o terapeuta conhece a especificidade do caso e realiza um acompanhamento personalizado para cada um.

Leitores de Belo Horizonte-MG interessados em acompanhamento psicológico, favor entrar em contato via mensagem.

Referência bibliográfica:

Phillips, A. (1996). Beijo, cócegas e tédio. (R. Figueiredo, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Original publicado em 1993).

Winnicott, D. (1958). A capacidade para estar só. In:O ambiente e os processos de maturação. (I.C. S. Ortiz, Trad.) Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. p.31-37.

Comments


2016 - ERA UMA VEZ -  PSICOLOGIA INFANTIL

  • b-facebook
  • LinkedIn - Black Circle
bottom of page